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Lendário blog

Há muito tempo atrás, longe pra caralho, vivia um pirralho que não estava completamente satisfeito consigo mesmo.
Era o começo do século 5 , e a terra foi o que hoje chamaríamos do sul da Índia , em Chennai . No entanto, naquela época a área era conhecida como Madras.

E o moleque da história não era um menino normal. Não mesmo.
Ele era um príncipe da família Chadili.

Um membro da classe Khsatriya , de guerreiros, o que significa que ele recebeu uma educação melhor do que a maioria outros catarrentos na sua idade. Dizer que ele tinha alguns privilégios seria quase um eufemismo. Ele foi educado tanto nas artes literárias como nas artes de combate, e a lenda diz que o menino gostava particularmente de praticar porradaria com a galera, e ele se tornou muito bom nisso depois de um certo tempo.

No entanto, embora tudo parecesse perfeito no mundo do pirralho, ser um príncipe da família Chadili significava que você não podia realmente fazer o que você queria. Com um título como esse você tinha que fazer algumas coisas que os rapazes não curtem fazer. Deveres, obrigações, tradições ...
Esta não foi a nossa vida menino queria viver.

Na verdade, ele era muito mal-humorado.

Aí ele começou a trabalhar em um plano. Um plano de como ele poderia escapar deste estilo de vida chato pra um mais emocionante. E depois de pensar nisso por um longo tempo, ele finalmente decidiu mudar de vida.
Como?

O plano era muito simples - ele decidiu mudar seu robe de leigo branca para o vestido preto de um monge. Soa bem idiota, né?

Abandonou a riqueza de sua família e bens e simplesmente desceu ao cais e foi a bordo de um navio que o levaria pra bem longe.
A viagem foi difícil, mas depois de muito tempo o navio finalmente chegou na  província chinesa de Ghangzhou.

Rapidinho o menino, que era agora um homem, ficou conhecido. Sua personalidade enigmática e conhecimento incrível fez com que as pessoas ao seu redor se perguntassem quem este monge estrangeiro realmente era. Mas ele não queria saber disso. Para ele, a sua vida passada não lhe dizia mais respeito. O que foi interessante foi ele conseguir mais pessoas que percebessem que eles também poderiam seguir o seu caminho de rejeitar o desnecessário. Em todos os lugares que ele olhava, ele viu pessoas que eram como ele tinha sido, e que acabavam se tornando no que ele se tornara.

Na verdade, o monginho tornou-se tão famoso que foi um dia convidado para a corte do Imperador Wu, fundador da dinastia Liang, no sul. Normalmente, esta teria sido uma grande honra para muitas pessoas, mas para o nosso monge não era. Ele já tinha experimentado a vida de uma realeza em sua antiga casa da Índia, e não poderia me importar menos.

O imperador ficou muito interessado nas idéias do monginho e muito ansioso para o encontro em sua corte, na atual Nanjing mas, segundo a lenda, tornou-se uma curta e estranha reunião.

Por quê?

Porque, em sua conferência o monginho apresentou um tipo de comportamento que o imperador simplesmente não estava acostumado. Na verdade ele estava bastante chateado com os modos do monginho.

O imperador perguntou: "Monginho, eu construí uma porrada de templos, publiquei trocentas escrituras e dei moral pra um monte de monges e freiras. Quão grande é o mérito em nessa parada toda que eu fiz? "

O monginho respondeu: "Não tem mérito nenhum, dotô."

Caralho! O imperador tinha ouvido muitas vezes mestres pica grossa falarem "Faça o bem, e você receberá o bem; fazer o mal e você receberá o mal." Mas agora este estrangeiro de merda na frente dele chega e fala que todos os seus esforços não tinham mérito nenhum. Que porra é essa?
A pergunta seguinte foi: "Qual raios é então a essência de tudo?"
E o monginho disse: "Porra nenhuma. É um puta vazio e sem essência!"
O imperador ficou bolado, pois o monginho tinha dito, basicamente, que as escrituras sagradas estavam erradas. Ou seja, pra não matar o monge, ele o baniu de seu reino. Daí o monginho resolveu viajar pro norte.

O cabra cruzou então montanhas, vales, rios, incluindo o Yangtze, e chegou em um lugar que ele achou maneiro: O templo da pequena floresta ou, como seus moradores o chamavam, Shaolin Si (少林寺).


Os outros monges no templo imediatamente o acolheram na família. Este era o lugar onde o monginho ia passar o resto de seus dias, tentando iluminar a galera através do que se tinha tornado sua marca principal: Paradoxos, enigmas e provocação para quebrar a rigidez intelectual.
Ah, ele tinha outra parada também: Chá. Muito chá. Ele fazia os monges beberem chá durante a meditação, pra "aguçar a mente". Estas paradas combinadas fizeram com que ele meio que virasse um popstar da meditação, e começou a ter muitos discípulos.
Ou seja, ele estava satisfeito né? Porra nenhuma! Uma coisa estava incomodando o monginho: Seus discípulos eram fraquinhos e frágeis, tipo um fã de Crepúsculo. Galera mais metida a fodona tirava onda com eles, batiam neles. Não era legal, todo mundo tava rindo dos seus discípulos.
O monginho acreditava na idéia de que a excelência espiritual, intelectual e física são um necessárias para a iluminação, então ele tinha que fazer algo sobre isso.
Como já sabemos, ele tinha praticado porradaria sistematizada da sua terra natal desde a infância. Ele decidiu fortalecer seus companheiros monges e discípulos, ensinando-lhes um conjunto de movimentos, que ele criou a partir da porradaria que ele treinava, um tal de "varmakkalai ".
O programa de exercícios desenvolvidos por nosso monge favorito foi um sucesso.Seus amigos monges e discípulos mudaram.
Estes exercícios seriam chamados "As 18 Mãos de Buda" (Shi Pa Lou Han em chinês). Eram exercícios respiratórios, exercícios de alongamento, exercícios de fortalecimento, bem como a porradaria em si. Era uma combinação muito boa.
De fracos para, não fortões exatamente, mas definitivamente sarados.

Mas algo ainda não tava legal. O monginho andou tão ocupado nestes últimos anos que ele tinha esquecido de si mesmo! Ele tinha ajudado uma galera em suas jornadas espirituais, mas e ele mesmo? Chegou até a ter uma doença que chamamos de Mal de Graves, que te deixa com os olhos esbugalhados. Sua barba estava gigantesca e desgrenhada.
Ele decidiu que algo drástico tinha que ser feito.
Assim, ele deixou o templo Shaolin e rumou para Monte Song , não muito distante, onde ele sabia que tinha uma caverna. Aquela caverna se tornaria sua nova casa, onde ele ficaria um bom tempo sem fazer porra nenhuma além de meditar. Claro, comia, cagava, dormia... mas passava todo o restante do tempo meditando de cara pra parede. 9 anos fazendo essa porra.
Só isso, mais nada. Sentava de frente pra parede e meditava.Junte a isso o chá e os exercícios e o homem não precisava de mais nada. Segundo algumas versões ele morreu na caverna, mas outras versões, como bem explicou o Monge Getúlio, ele foi envenenado por aqueles que não curtiam seus ensinamentos e estavam perdendo discípulos.

Seu nome era Bodhidharma. Também conhecido como Daruma em japonês. Ou Ta Mo em chinês.

FIM.


Então, como você provavelmente já percebeu, esta história era sobre a vida de Bodhidharma, fundador do Zen Budismo.
Normalmente eu não gostaria de escrever sobre religião mas ainda assim eu escrevi sobre o menino que cresceu para espalhar Zen Budismo.
Por quê?
É muito simples.
Os exercícios que ele ensinou no templo Shaolin eram, segundo alguns pesquisadores, a base do Shaolin kung fu, que poderia ter existido ou não. Quem nunca ouviu falar do templo Shaolin? E a possível ligação com o Karate é óbvia demais até mesmo para explicar (Shorin é a pronúncia japonesa de Shaolin).
Em tese, não fosse por ele, talvez não houvesse qualquer Judo ou Jujutsu. Vai saber, lendas são drásticas também! Muitas delas falam de Chingempin, que foi pro da China pro Japão após a queda da dinastia Ming, onde ensinou porradaria juntamente com o Zen Budismo.
E ele não foi o único. Muitos outros monges iam para o Japão depois, espalhando a mensagem de Bodhidharma, influenciando fortemente Budo japonês. A classe samurai até fez do Zen seu modo de vida.
Bodhidharma e seus ensinamentos Zen tiveram um grande impacto em vários artistas marciais, que variam de Musashi a Jigoro Kano. Eu duvido seriamente que você pode citar um influente Budoka do Japão, China, Coréia e afins que não foi afetado pelos ensinamentos de Bodhidharma, de uma forma ou de outra.
Mas devo avisá-lo: Antes de sair falando sobre Bodhidharma e sua história de vida à sua esposa, marido, namorada, namorado, cachorro, crianças, colega de trabalho, cabeleireiro ou peguete, por favor, seja crítico para com o que escrevi. O problema é que algumas pessoas concordam com uma versão, algumas com outro. Por exemplo, há fortes evidências de que Daruma era originalmente de Irã. Alguns especialistas chegam a dizer Pérsia. Enquanto outros historiadores dizem que ele nunca existiu. Eu mesmo não levo muita fé na existência dele, mas adoro a lenda.




Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. No termo popular, Daruma san representa paciência e não desistir nunca dos objetivos! Os bonecos são redondos (posição de meditação) e com fundo pesado, caso caia no chão, volte a ficar em pé, vermelhos para afastar os famosos "sangue-sugas" rs e vem sem olhos. Se não me engano, deve ser ganhado e não comprado e quem ganha o boneco deve pintar um olho, fazer um pedido e se realizado, pintar o outro olho.
    A fé move montanhas!
    Beijos old friend!
    Gostei do post! =*

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  3. Resguardadas as devidas proporções e licenças poéticas, gostei.
    Apenas gostaria de lembrar de que ele não morreu na caverna, foi envenenado por detratores.
    Um abraço.
    Getulio Taigen

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  4. Opa, sensei, agradeço pelo comentário e pela correção.

    Oss!

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  5. Muito bom Ograng, obrigado pela leitura.

    E Sensei Getulio, o Warui teve o cuidado de não afirmar nada no que se refere ao fim do manolo: "Segundo algumas versões ele morreu na caverna, mas outras versões, como bem explicou o Monge Getúlio, ele foi envenenado por aqueles que não curtiam seus ensinamentos e estavam perdendo discípulos"

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  6. as melhores partes da historia foi a adaptaçao dos termos colocando de forma contemporanea uma historia milenar! coisa de genio!
    hehehhehe

    maneiro o texto Reverendang!

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